JOVEM EMPREENDEDORA VAI CONHECER O BRASIL DE BICICLETA- por Claudio Tostes

Mineira radicada no Rio muda estilo de vida e vai viajar todos os estados brasileiros pedalando

A pandemia fez Amanda Bento, de 32 anos de idade, dar uma pedalada na própria vida e decidir que vai viajar sozinha de bicicleta por todos os estados do Brasil, numa expedição de 500 dias, percorrendo 10 mil quilômetros (o equivalente a 25 viagens entre o Rio de Janeiro e São Paulo), a partir do próximo mês de março. Partindo de Cataguases (MG), sua cidade natal, ela vai levar dois dias para chegar ao Rio de Janeiro, onde mora há15 anos. Depois, seguirá pelo litoral para o Nordeste, em seguida para o Norte, Centro Oeste, Sul e termina no Sudeste.

O projeto Viaje Como Uma Garota surgiu quando o namoro de Amanda acabou e ela encerrou as atividades em suas lojas de moda em Ipanema e Botafogo, na Zona Sul do Rio de Janeiro. Foi quando ela deu a largada para um novo ciclo. Na busca por autoconhecimento, percebeu que havia deixado sonhos para trás e resolveu que vai realiza-los antes de perder o fôlego.

“Em 2020, entendi que o tempo é ouro e que às vezes é preciso ir. A vontade de conhecer o mundo já existe há algum tempo, mas foi na pandemia que decidi começar pelo Brasil e de bicicleta”, afirma Amanda com a certeza de quem está elaborando um plano muito bem estruturado. Um dos primeiros passos foi estudar como o corpo poderá reagir aos esforços a que será submetido.

Sempre muito ativa, Amanda fez dança por muitos anos e é magrinha. O início da preparação física a fez emagrecer mais e a dificuldade agora é garantir que a perda de peso durante a viagem não se transforme em um problema. A nutricionista Luiza Jacob estabeleceu metas diárias de hidratação, preferencialmente com água de coco, e alimentação com repositores, tudo o mais natural possível.

“Em alguns lugares, não vou ter acesso fácil à água de coco e vamos encontrar alternativas. O desjejum será um shake que vou bater em um liquidificador à bateria, bem pequeno, do tamanho de um copo. Antes de sair, às seis horas da manhã, tomo esse shake e preparo as misturas que vou ingerir no caminho”, a ciclista diz fazendo sinais pequenos com as mãos.

Em contato com atletas que fazem viagens semelhantes pelo Brasil, Amanda já sabe que os planos podem sofrer alterações durante a execução do projeto. O objetivo é fazer entre 40 e 120 quilômetros em um dia, até às 14 horas, parando para o almoço. Se precisar, ela terá mais algumas horas de sol para descontar atrasos e a noite para descansar e ficar em segurança. Havendo necessidade, haverá um fogareiro onde pode preparar uma pequena refeição.

“Eu terei pontos de apoio e paradas. Os pontos de apoio são só para dormir, às vezes na minha barraca. Ao sair do Rio, vou ter um ponto de apoio em Jaconé, por exemplo, mas a minha parada de verdade vai ser em Arraial do Cabo, onde pretendo ficar cinco dias e estou combinando de fazer um mergulho. Eu vou curtir também, conhecer os lugares. A ideia é essa”, explica. Há lugares onde Amanda pode ficar até 15 dias. Salvador (BA) é um deles.

Em uma oficina em Copacabana, Amanda conseguiu uma parceria para aprender em 10 dias os consertos que podem ser necessários nas rodovias. Conserto ou troca de câmara de ar, regulagem de freio, troca de pneus, regulagem de corrente ou marchas, ela vai aprender na prática. “O problema é que tive um atraso na entrega da bicicleta e preciso dela para realizar esse treinamento”, revela a ciclista que não pretende adiar sua partida.

Os equipamentos de segurança estão em dia e ela está aprendendo questões técnicas sobre capacetes. O clima a preocupa muito porque ela sabe que pode precisar de mudanças no planejamento. Amanda passou a se sentir mais segura depois que começou a fazer aulas de Krav Maga. Ela própria produziu seus alforjes, que são as bolsas para se anexar ao quadro da bicicleta, aproveitando seus dotes de costura.

O CICLOTURISMO PODE SE TORNAR SEU ESTILO DE VIDA

Amanda sempre gostou muito de praticar esportes, mas o ciclismo é uma coisa recente em sua vida. Durante a pandemia, passou a usar a bicicleta como meio de transporte. “Era uma forma de sair de casa sem estar aglomerada e ter contato com a natureza. Eu sou ciclista, mas não sou atleta do ciclismo”, define.

Sem trabalhar, depois de encerrar seu negócio, pensou em voltar para Cataguases, mas como já pedalava distâncias mais longas, decidiu treinar para fazer esta viagem de bicicleta. Depois de uma pesquisa com quem já estava pedalando pelas estradas, decidiu ampliar o projeto e viajar pelo Brasil pedalando. Decidiu então, “essa viagem é minha” e agradeceu aos convites para fazê-la acompanhada, mas recusou-os.

Um incidente em um posto de gasolina machucou muito seu joelho, há dois meses. O pneu da bicicleta caiu dentro da canaleta de segurança, responsável por recolher o combustível que acidentalmente pode derramar pelo piso. O pneu agarrou ali e o joelho suportou o peso do corpo praticamente sozinho durante a queda. Amanda sentiu muita dor e faz fisioterapia.

O contato com outros ciclistas a deixa tão animada que Amanda já faz planos para outras expedições. “Vou do Uruguai ao México, com certeza de bicicleta, e já estou pensando em fazer o Caminho de Santiago de Compostela também. Eu quero adotar o cicloturismo para a minha vida, mas quero ter a liberdade de escolher como vão ser as outras viagens”, sentencia a jovem empreendedora com brilho nos olhos.

 


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