Dúvidas diversas têm aportado na rotina dos infectados por Covid-19 em relação à saúde cardíaca. Para responder às perguntas mais comuns, conversamos com o cardiologista Ricardo Augusto Slaibi Conti, Diretor da unidade semi-intensiva e professor de Clínica Médica e Médico no Ascension Saint Agnes Hospital, em Baltimore, nos Estados Unidos da América, e que também cursou medicina na Universidade Federal Fluminense, em Niterói, onde faz parte da família de juristas e escritores Slaibi Conti. O médico é cardiologista pelo Incor/USP e pertence à Sociedade Brasileira de Cardiologia, entre outros títulos.
Alguns danos cardiovasculares durante a infecção por Covid-19 são muito comuns, segundo o Dr. Ricardo Augusto. E, para se ter um diagnóstico seguro, é preciso medir a enzima Troponina. Em cerca de trinta por cento dos pacientes infectados pela gripe chinesa, esta se acha elevada. Para entender melhor, vale dizer que a Troponina é uma proteína que se encontra dentro das células cardíacas e a sua presença indica que houve uma ruptura destas estruturas celulares. É um marcador de lesão cardíaca. A Troponina encontra-se elevada, por exemplo, no infarto agudo do miocárdio, e, também, em quadros de infecções por Covid-19. A presença desse marcador elevado pode estar ou não associado com sintomas.
Mas, mesmo na falta de sintomas, está bem documentado cientificamente que a presença da Troponina elevada aumenta a mortalidade de pacientes com Covid-19. Existe uma série de exames que estão associados a um prognóstico pior com Covid-19 e a enzima é um dos sinalizadores.
Segundo o Dr. Ricardo, entre os sintomas mais comuns associados à Covid-19, está a insuficiência cardíaca, falta de ar, palpitação e dor toráxica atípica. Outros sintomas podem ser o infarto, bem como já se sabe que a Covid-19 pode gerar trombose em varias partes do corpo, e, por sua vez, os coágulos podem causar infarto agudo do miocárdio. E importante lembrar que, como sintoma cardiovascular, se pode observar a presença de trombose em outras partes do corpo – podem ser, por exemplo, nas pernas, como a trombose venosa profunda, além desta incidência em vasos cerebrais, causando um AVC.
Mas, nem tudo está perdido. “A grande maioria dos danos cardiovasculares causados pela Covid-19 são problemas temporários”, revela o Dr. Ricardo Augusto Slaibi Conti. Entretanto, ainda não se conhece de alguns casos de inflamação cardíaca ocasionadas na infecção, que vão evoluir para um enfraquecimento do coração e, conseqüentemente, uma insuficiência cardíaca.
De acordo com o cardiologista, a maioria das doenças causadas por vírus geradores da miocardite viral são resolvidas com o tempo. Apenas uma pequena incidência pode levar a insuficiência cardíaca irreversível.
“Em caso de AVC secundário, causado pela Covid-19, as seqüelas melhoram com fisioterapia, mas podem permanecer. Assim, também, como coágulos de uma insuficiência venosa profunda no pulmão podem causar não só a morte, mas deixar uma função pulmonar diminuída, levando ao quadro de hipertensão pulmonar”, explica Dr. Ricardo Augusto.
“Uma discussão sobre tratamento da Covid-19 associado aos problemas cardiovasculares, é o uso da anti-coagulação. Não está muito bem documentado o beneficio de se fazer a medicação anti-coagulante em todos os pacientes com coronavírus. Mas alguns médicos são a favor de fazer uma dose profilática do anticoagulante em todo paciente com Covid, que não tenha altos riscos para sangramento. Nos pacientes que têm exame que marque alta atividade coagulante, muitos médicos são a favor de começar, profilaticamente, o anti-coagulante, já que a Covid-19 causa predisposição à coagulo. Já quem tem um exame de ultra-som mostrando coagulo, mesmo que não tenha sintoma, se usa anti-coagulante. No quadro de pacientes cardíacos, não há medicação especifica para proteger o coração. As ministrações são muito mais usadas para a falta de oxigênio e problemas respiratórios do que, preventivamente, para problemas do coração. Entre as principais medicações para se tratar a infecção do Covid-19, estão os esteróides, dexametazona – situação bem documentada em casos de pacientes graves com baixa concentração de oxigênio, chegando a proporcionar a queda da mortalidade. O antiviral chega a reduzir os dias de internação, entre outras medicações, que vão diminuir a resposta inflamatória”, revela o cardiologista.
A prevenção da Covid-19, como sabemos, é baseada na imunização precoce e nas medidas sociais de isolamento que consiste, basicamente, em evitar aglomerações e o uso de mascaras. “Não há uma prevenção especifica para doenças cardiovasculares, mas é importante notar que a hipertensão e diabetes descontroladas aumentam o risco de um estado grave da Covid-19. Devemos manter a pressão e diabetes bem controladas. Com relação a medicações contra hipertensão, contamos com algumas muito comuns, como Captopril, Losartana, entre outros, que no começo da pandemia chegou a haver dúvidas sobre seu potencial de um possível agravamento da Covid-19. Hoje sabe-se que elas não causam risco aumentado”, esclarece o médico.
Dr. Ricardo alerta que os pacientes cardíacos precisam sim de acompanhamento por causa da Síndrome Pós-Covid- 19 – na qual nota-se fadiga, cansaço, dores na região coração atípicas, desânimo, depressão. Tudo isso é bem conhecido já recente literatura reunida sobre a gripe chinesa.
A recomendação é fazer o acompanhamento através da eventual dosagem da enzima cardíaca Troponina, ecocardiograma e eletrocardiograma. Este protocolo é o mesmo para pacientes -atletas que querem retornar às atividades físicas, que devem ser evitadas por 10 a 14 dias após a Covid. Se houver alteração dos resultados, pode vir a ser necessário uma ressonância magnética nuclear do coração e o tratamento para uma inflamação não é conhecido, mas se ocasionar fraqueza do músculo cardíaco, existem medicações que podem ajudar na recuperação do paciente.
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