Terra à vista: Lucia de Almeida Rodrigues, ex-executiva do conglomerado Richemont, revela pontos do panorama atual de mercado do luxo.

 

https://linktr.ee/mulheresniteroi

 

Mesmo depois de longos anos morando em Paris, atuando no eixo Paris-Londres como alta executiva de Richemont – leia-se Cartier, Van Cleef & Arpels, Baume et Mercier, Montblanc, etc -, seu português continua impecável. E o que é melhor, não só conserva a pronúncia bem verde e amarela, como mantém irretocáveis as peculiaridades do espanhol, francês e inglês. Assim mesmo, com um coração pra lá de internacional, Lucia de Almeida Rodrigues, conversou conosco, em tarde descontraída, no restaurante Verdana Grill, em Niterói, dia 20, tocando em três pontos-chaves para compreensão do cenário dos gigantes do luxo.

A seguir, a breve entrevista com ela, que, comumente oferece jantares em seu apartamento de Paris, onde, nos dez concorridos lugares da sala de jantar, também se fala no Brasil e se come feijoada, adaptada, claro, quando a “viande des Grisons” suíça entra em cena, no lugar da carne seca. É assim que ela cultiva amigos de longa data.

 

1- Porque o mercado do luxo, a exemplo, a Cartier, ainda é tão inacessível no Brasil?

Lucia:

O mercado do luxo, em geral, sobre tudo o exemplo que você deu, a Cartier, que é uma empresa de jóias mundial, e é claro, de relógios também, ficou conhecida no século XIX, quando criaram três sucursais – uma em Nova Iorque, a segunda, em Londres e a sede, em Paris. Na época, o Eduardo VII, filho da rainha Vitória, disse: “Cartier: joalheiro de reis, o rei dos joalheiros ”. Quando o nobre foi coroado, em 9 de agosto de 1902, no Reino Unido, Cartier lhe fez, nada menos, do que 27 tiaras. É uma quantia bem importante. Naquela época, a nobreza usava este adereço para ir a eventos da realeza e da alta sociedade. O mundo do luxo oferece, sempre, opções mais acessíveis também. Todo o mercado deste segmento fabrica, por exemplo, óculos de sol. Que sejam as marcas de moda, como a Gucci, Chanel e Dior, ou os joalheiros, como Cartier e Van Cleef. Todos fabricam óculos escuros. Obviamente são mais acessíveis por não terem as pedras, que são matéria-prima muito, muito cara.

 

2- Quanto tempo, depois de lançada uma tendência na Europa, esta pega no Brasil?

Lucia:

Nós temos uma defasagem de estações. Quando é inverno na Europa, aqui é alto verão. Além disso, o clima no Brasil é muito diferente de lá. Por isso, casacos, botas forradas nunca poderiam pegar por aqui. Ou, pelo menos, no Rio de Janeiro. Pode emplacar, por exemplo, no Rio Grande do Sul. Agora, a moda brasileira, inclusive a carioca, de verão – maiôs, biquinis, pareôs -, tudo isso é exportado para Europa. Tem uma loja, em Paris, chamada pão de açúcar em francês, “Pain de Sucre”, que vende biquinis maravilhosos, brasileiros. Em geral, lá estão Lenny Niemeyer e outros estilistas daqui.

 

3- Notamos, mais acentuadamente, uma mudança mundial no mercado do luxo. Já se vê uma movimentação de forma a tornar essas grandes marcas mais ocupadas da visão humanitária, do desenvolvimento do indivíduo, da sustentabilidade, e coisas do tipo. O que você tem a dizer dessa mudança?

Lucia:

Você tem toda a razão, o mundo do luxo se conscientizou. Há algum tempo, foi assinado o tratado de Kimberley, há cerca de 20 anos. O setor não compra mais os diamantes de sangue. Em outras palavras, as pedras traficadas em guerras, na África, de países produtores, como África do Sul e Zimbábue, isso foi proibido. Esse protocolo foi assinado por todas as marcas do luxo e liderado por Cartier. Quanto à moda do luxo, Dior, Chanel, Dolce e Gabbana, Chloë e por aí vai, não aceitam mais o trabalho escravo. Muitas coisas eram feitas por crianças, na Ásia. O preço da mão de obra era ridiculamente baixo. Produtos também vinham do Paquistão e Bangladesh. Por isso que a moda aumentou de preço. Essa mão de obra, atualmente, é paga mais dignamente.

 

Esses são pontos do cenário atual, resumido, do mercado do luxo, segundo Lucia de Almeida Rodrigues.

Vale dizer que Lucia recebeu este nome por uma escolha de seu pai, diplomata, durante uma visita dele ao Teatro Colón, em Buenos Aires, Argentina, onde estava em cartaz, a ópera “Lucia di Lammermoor”, de Donizetti. Foi criada entre Suíça, França, Inglaterra e Brasil, onde seu pai servia ao governo brasileiro em grandes missões.

 


Descubra mais sobre Gabriela Nasser

Assine para receber nossas notícias mais recentes por e-mail.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *